sábado, 7 de agosto de 2010

Pequeno curativo num grande ferimento, mas ainda sim um curativo.

Procurando  uma maneira de contribuir com o Ambiente,  
(não simpatizo com a frase: Meio Ambiente por tratar-se de uma redundância, Meio e Ambiente são palavras sinônimas) já que não cessamos de produzir lixo, cotidianamente cada pessoa do planeta produz em média 1 quilo de lixo, segundo estatisticas Ecológicas, então alguém pode perguntar como eu posso contribuir com o Ambiente deste nosso planeta tão sofrido?
Uma imensa ferida que exige um curativo bem grande!
Existem centenas de maneiras com a qual podemos contribuir,
uma delas  de forma humilde mas eficiente. 
Escolhi apenas uma opção, por estar diretamente ligada aos meu trabalho, mas que penso estar ao alcance de qualquer pessoa.
Comemos óleo todos os dias, aproximadamente 15% da produção de soja é destinada a produção de óleo comestível, isto para falar exclusivamente da soja, deixando fora, o Girassol, Canola, Milho, algodão, entre outros.
Milhares de pessoas consomem frituras, se é saudável ou não é outro mérito da questão, o fato é que casas de lanches no mundo todo e domesticamente falando, nos utilizamos de milhares de litros de óleo todos os dias e os brasileiros consomem em torno de 3 bilhões de litros de óleo de cozinha por ano. O óleo de cozinha usado é um poluente, podendo causar problemas ambientais sérios. Ao ser jogado pelo ralo este  óleo vai para a rede de esgotos e chega a rios, mares e lagoas prejudicando o equilíbrio destes ecossistemas.
Alguns estudos indicam que um litro de óleo pode contaminar até 1 milhão de litros de água. Além de impermeabilizar o solo, o óleo descartado inadequadamente também adere às paredes das tubulações de esgoto, facilitando o entupimento e o surgimento de enchentes.
Se descartado no lixo comum, o material se decompõe emitindo metano, um dos gases causadores do efeito estufa. 
Bem deixando de lado as estatisticas desoladoras, partimos agora para a reciclagem, uma dessas formas  é o aproveitamento completo deste óleo que se torna unútil para a alimentação  humana depois de utilizado, mas que pode se transformar num material indispensável para o nosso uso diario que é o sabão, antes, material extrememente poluente que era o óleo, para material de higienização de suma importância, e ainda com a vantagem de ser  biodegradável, em relação a outros produtos de ação poluidora de origem industrial.
Pode parecer algo insignificante este curativo, mas se cada um de nós fizer a sua parte, podemos estar entre aqueles que contribuem para um mundo melhor, mais educado e menos poluido.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sabão de cinzas, primeiro sabão do mundo.

A história do sabão de cinzas se confunde com a história dos tempos.
Foram encontrados registros em documentos da época em que se escrevia em papiros, tão antigos quanto ao despertar do homem  para a Divindade, quando oferecia animais nos altares de sacrifício.
Sim, mas vc pode me perguntar o que tem isto a ver com o sabão de cinzas?
Tudo a ver, eu te respondo, porque o resultado da mistura das cinzas com a gordura dos animais que caía dos altares nada mais era do que sabão!


Os egípcios foram os primeiros a notar que aquela pasta formada neste processo, servia para passar nos cabelos. Porém muito mais tarde é que se descobriu que servia para tirar a sujeira das roupas e objetos. Muito tempo depois, começou-se a utilizar a cinza vegetal, rica em carbonato de potássio e gordura animal, para produzir sabão.


Na verdade o sabão não foi "descoberto", ele foi  surgindo entre os povos gradualmente, como que em "ressonância mórfica", de misturas de materiais alcalinos e matérias graxas.
O aperfeiçoamento no processo de fabricação foi surgindo substituindo as cinzas de madeira pela lixívia rica em hidróxido de potássio e obtida acrescentando água na mistura de cinzas e barrilha. Com a adição da barrilha descobriu-se que o sabão adquiria dureza e não ficava mais como uma pasta.
Até aí ninguém pensava que o sabão fosse resultado de uma reação química.
Foi quando Chevreul, um químico francês, mostrou que a formação do sabão era na realidade um processo químico.
Em 1792, o químico francês Nicolas Leblanc conseguiu obter soda caústica do sal de cozinha e amônia. Pouco depois, criou-se o processo de saponificação das gorduras, o que deu um grande avanço na fabricação de sabão com a escolha de matérias primas mais elaboradas e repassadas pela indústria. Chega até nós como o conhecido sabonete, que vem do francês, savonnette, ou sabão perfumado, cortado em pedaços menores.
Não vamos nos aprofundar no processo da indústria saboeira, vamos nos ater ao sabão de cinzas e como podemos ver, se perde nas brumas do tempo.
Este sabão foi relegado ao esquecimento devido ao processo artesanal de produção e a facilidade de se adquirir hoje em dia um sabonete pronto, industrializado, perfumado e embalado em papel delicado.
E as cinzas, é algo raro e difícil de obter modernamente depois do uso do fogão a gás, mas ela pode ser obtida na zona rural, através da queima de madeiras que contenham bastante potássio. 
Antes as nossas avós usavam os "barrileiros" que segundo uma metodologia completamente artesanal, furava-se buraquinhos em uma lata que era suspensa em uma espécie de giral de madeira, e em baixo colocava uma bacia ou um tacho de cobre ou zinco. Não podia ser de aluminio para não reagir com a potassa, ia colocando cinza e molhando, socando com uma mão de pilão para acomodar bem a cinza. Depois começa o processo colocando água aos poucos, e mais água sempre que aquela outra escoava. O primeiro líquido apurado era mais fraco, sendo que os seguintes eram mais concentrados, até adquirir uma cor marrom bem escura, onde posteriormente era utilizado para fabricar o sabão.
Hoje em dia esta técnica pode ser simplificada, fervendo as cinzas em um tacho e depois deixar decantar e coar o produto extraido, que é a potassa pura.
O grande problema porém era a concentração exata da potassa que era impossivel medir, sendo que o sabão deveria ser testado durante o cozimento. Era testado com a língua e se tivesse picante na lingua é porque ainda tinha potassa passando, e voltava para o fogo. Este tipo de sabão exigia uma cura mínima de 3o dias, para ser utilizado.


Preciosidades assim ainda podem ser produzidas com uma boa dose de paciência e dedicação pelo que se faz. Atualmente utiliza-se matérias primas vegetais no lugar do velho sebo ou banha, balanceando a potassa e a soda para medidas compatíveis com a receita. Esperando amornar a massa saponificada, pode-se acrescentar essências perfumadas, ou ervas aromáticas , para que o sabão possa ser utilizado no banho.
Este sabão é bastante nutritivo para a pele, conservando toda a glicerina no processo de saponificação, e os nutrinetes básicos contidos nas ervas e aditivos que se queira acrescentar, além de ser exelente desinfetante.


Eis aí o passado redivivo, na memória dos que cultivam as belezas mais simples da vida, permitindo assim uma reconstrução desta tradição em bases sólidas. Assim é o sabão, feito uma fenix renascido das cinzas, alçando vôos mais altos rumo a sua valorização no futuro.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Gratidão rima com sabão


Hoje vim aqui para agradecer.
Quando resolvi voltar as minhas raízes, depois de muitos anos, encontrei sérias dificuldades para ir além do eu já havia aprendido a respeito de sabão.


Eu sabia que tinha algo mais...
Foi uma busca relativamente longa e difícil, na minha urgência em resgatar muito do que havia perdido.


Andei em busca de informações, entrevistei pessoas, que fizeram parte de uma época em que eu nem existia, pesquisei muito, até que um dia encontrei numa dessas minhas pesquisas um certo professor, não, melhor, um mestre, que como eu trabalhava nas lides educacionais.


Mas o que me chamou a atenção é que este professor respondia perguntas num determinado link de química, e foi aí que meus caminhos se abriram...Professor Luis Paulo de Oliveira, grande mestre do sabão, respondia a todas as perguntas feitas por mim, como uma criança deslumbrada com um novo brinquedo.
Eu te agradeço por tudo que aprendi naquele momento decisivo.
Ganhei não só um professor mas um amigo.
Continuando minha trajetória, descobri rapidamente que o mundo do sabão, estes pedacinhos de jóias lapidadas a mão, era um mundo a parte, fechado, guardado a sete chaves, lacrado, quase intransponível, havia fontes onde não se podia ter acesso. A não ser pelo professor Luis Paulo, cujo lema em suas apostilas é "Ninguém pode ser dono absoluto do conhecimento".


Um dia porém encontrei uma dessas fontes, consegui entrar em um grupo de saboeiras, onde não só encontrei o que buscava, como também fazer parte de uma familia que jamais pensei existir, a familia daquelas e daqueles que tem paixão por esta arte. Agradeço a estas amigas, irmãs, bruxas do bem, que me mostraram que eu não estava sozinha, que alguém também amava o que eu fazia.


Como disse antes, era uma fonte inesgotável, quando imaginei que havia completado a minha pesquisa e que já sabia manejar bem o tacho, encontrei no meu caminho, um outro anjo saboeiro, indicado por outra amiga saboeira, o mestre Marcus Siviero, mago de muitos avatares, que com seu coração gentil, transmitia conhecimento generosamente a quem o buscasse. Através dele conheci várias outras técnicas, tanto preciosas quanto mágicas!


Sonhei, o que um dia poderia ser solitário, encontrei muito mais do que precisava.
Nesta minha busca, encontrei anjos, mestres e amigos, tão perfumados quando o velho sabonete de jasmim no canto de uma gaveta, tão diáfanos quanto uma bolha de sabão, tão generoso e gentil quanto a dona Gabriela.
Além das técnicas encontrei sabedoria.
E ainda não terminou...


Fechem os olhos agora e tentem imaginar um dia sequer em nossa vida sem sabonetes e sabões.
Sou grata a todos os amigos que acessam este Blog,
Sou grata a todos que deixam seu carinhoso depoimento.





terça-feira, 15 de junho de 2010

Sabonetes - do tacho ao que eu acho...


De uma maneira ou de outra sempre estive ligada ao artesanto.
Minha terra natal, Ituiutaba, localizada numa região de Cerrado, no Pontal do Triângulo Mineiro, é lugar de artistas e artesãos talentosos e de grande capacidade criativa.
Com minha avó materna aprendi desde cedo a manejar o tacho de sabão, que ela fazia com ervas aromáticas, principalmente o Patchouly e Alfavaca que eram ervas comums nos quintais das nossas casas.

O fogo do fogão a lenha fazia seu trabalho de cozimento, enquanto a brisa da tarde espalha os perfumes de ervas no ar, onde todos da rendondeza já sabiam - Dona Gabriela esta fazendo sabão! - depois de três dias no fogo, com a massa perfeitamente saponificada, com todo o capricho minha avó enrolava as bolas, uma a uma, e ia guardando nas latas, para serem utilizadas posteriormente na lida doméstica, na lavagem das roupas que ficava com cheirinho de Patchouly e de limpeza!

Hoje em dia acho que o que minha avó fazia é uma arte completa, que não deveria morrer pelas gerações afora, e aliando a outras técnicas maravilhosas de fazer sabão, resolvi desenvolver eu também esta arte e divulga-la para que todos possam usufrir destes pequenos pedaços de amor e conhecimento que em dado momento não deixa de ser secreto. Um banho com um sabonete natural produzido desta forma antiga e ao mesmo tempo contemporânea, nos leva a compreender a trajetória de nossos ancestrais, evocando uma herança de amor e dedicação.